Colunista diz como conservadores dos EUA tentaram enfraquecer PT
Como vocês acompanham, em outubro próximo teremos eleições na Venezuela, nas quais o presidente Hugo Chávez tentará a reeleição. Será mais um pleito democrático, como todos os que ocorrem na região nos últimos anos. São disputas eleitorais com altos e baixos, qualidades e defeitos, de acordo com o grau de aperfeiçoamento democrático atingido pelos países da América do Sul e Latina.
A propósito desa eleição venezuelana, convido vocês a lerem o artigo Ano eleitoral: Obama X Venezuela, publicado na folha de S.Paulo pelo Mark Weisbrot, Obama X Venezuela”, co-diretor do Centro de Pesquisas Econômicas e Políticas (www.cepr.net), em Washington (EUA), e também presidente do “Just Foreign Policy” (www.justforeignpolicy.org).
O convite é porque, além de bem esclarecedor sobre o pleito no país vizinho, o texto mostra como uma organização vinculada ao Partido Republicano fez pressões no Brasil para tentar enfraquecer o nosso PT.
Pressionaram por mudanças na lei eleitoral para enfraquecer PT
Acompanhamos todos – vocês e nós também – as disputas eleitorais pela nossa imprensa conservadora, que, de forma geral, distorce muito mais do que informa em sua visível campanha ideológica para favorecer conservadores e prejudicar progressistas nessas disputas eleitorais.
No tocante à Venezuela – e a todos os países da região quando se confrontam eleitoralmente forças progressistas e conservadoras – há nos jornalões e revistas mais desinformação do que um retrato fiel da realidade do país.
Por isso o artigo de Mark Weisbrot é bem esclarecedor em relação a tudo o que tomamos conhecimento por meio de nossa mídia aqui. Ele assinala, por exemplo, que “a política de Obama em relação aos governos latino-americanos de esquerda vem sendo de “contenção e recuo”, algo que mal é distinguível da política de George W. Bush.”
Dinheiro sai de núcleo duro do Partido Republicano
Conta, por exemplo, que a recente expulsão do cônsul da Venezuela em Miami tem tudo a ver com a eleição presidencial nos Estados Unidos em novembro próximo. A Flórida é um Estado indeciso nas eleições presidenciais americanas, assinala o articulista, daí a decisão do governo do presidente Barack Obama de expulsar o diplomata para “faturar” para si o voto de Miami.
Ele lembra, também, que os EUA estão há mais de três anos sem embaixador na Bolívia, porque o Departamento de Estado americano se recusa a revelar o que faz com dezenas de milhões de dólares que gasta anualmente no país. E que Washington apoia a oposição na Venezuela, via NED (National Endowment for Democracy), um fundo através do qual gastou US$ 1,6 milhão no país em 2010 contra Hugo Chávez.
E atenção: no artigo Mark Weisbrot conta que a maior parte do financiamento do NED está indo para o IRI (Instituto Republicano Internacional), um núcleo duro incrustrado no Partido Republicano, que aplaudiu publicamente o golpe de 2002 na Venezuela; alavancou o golpe de 2004 que derrubou o governo democraticamente eleito do Haiti; e que “fez pressão por modificações nas leis eleitorais brasileiras que enfraqueceriam o Partido dos Trabalhadores”.
Na sequencia, artigo de Mark Weisbrot publicado na Folha de S.Paulo (para assinantes) do dia 18/01/2012.
Ano eleitoral: Obama X Venezuela
Mark Weisbrot
Obama age em relação aos governos latino-americanos como agia Bush, na base de “contenção e recuo”.
Já ficou comum os comentaristas políticos dos EUA descreverem a eleição primária republicana como a “estação da tolice”, na medida em que os pré-candidatos procuram agradar à base de extrema-direita do partido com propostas e discursos que serão deixados de lado na eleição geral. Infelizmente, porém, a “estação da tolice” é um problema climático não apenas do lado republicano.
Como observei neste espaço duas semanas atrás, a administração Obama nos levou para mais perto de um confronto militar com o Irã, em parte pela pressão republicana, embora a administração esteja ficando nervosa com a possibilidade de ser arrastada para uma guerra por um ataque militar israelense.
Mas existem outras áreas em que elevar o tom das hostilidades, com finalidades eleitorais, é destituído de riscos políticos. A Venezuela é uma delas. A Flórida é um Estado indeciso nas eleições presidenciais americanas; logo, não foi surpresa ver, na semana passada, a administração expulsar a cônsul venezuelana de Miami.
A expulsão foi baseada em uma suposta conversa entre a consulesa venezuelana, Livia Acosta Noguera, reproduzida pela estação de TV de direita Univisión, no que parece ter sido uma tentativa fracassada de agentes à paisana de envolvê-la numa falsa trama de “ciberguerra”.
Não está claro se a conversa foi real ou se aconteceu precisamente conforme foi reportado, mas, mesmo que tenha sido, não há provas de que a consulesa tenha se deixado envolver na armadilha.
A política de Obama em relação aos governos latino-americanos de esquerda vem sendo de “contenção e recuo”, algo que mal é distinguível da política de George W. Bush.
Os EUA estão há mais de três anos sem embaixador na Bolívia, em parte devido à sua recusa em revelar o que o Departamento de Estado americano faz com as dezenas de milhões de dólares que vem gastando anualmente nesse país.
Washington também vem apoiando a oposição na Venezuela: por exemplo, o NED (National Endowment for Democracy), fundo de nome orwelliano, gastou US$ 1,6 milhão no país em 2010.
A maior parte do financiamento do NED está indo para o IRI (Instituto Republicano Internacional), o núcleo duro filiado ao Partido Republicano, que aplaudiu publicamente o golpe de 2002 na Venezuela e exerceu papel importante no golpe de 2004 que derrubou o governo democraticamente eleito do Haiti.
O IRI, em 2005, fez pressão por modificações nas leis eleitorais brasileiras que enfraqueceriam o Partido dos Trabalhadores, conforme reportado neste jornal.
Washington tampouco vem conquistando amigos com sua decisão de votar contra a concessão de empréstimos à Argentina por instituições multilaterais.
Mas a Venezuela é o alvo principal não por causa de Chávez, mas porque o país possui 500 bilhões de barris de petróleo, as maiores reservas estimadas do mundo.
Como não apenas Obama, mas também Chávez será candidato à reeleição neste ano, podemos prever mais façanhas de cunho publicitário nos próximos meses. Esse tem sido o padrão no passado, à medida que Washington procura influenciar a eleição na Venezuela por meio da mídia internacional.
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